Amizade e União

– Silvio Harburger – 

A relação entre a ARI e a União é visceral e tem seus primórdios nas necessidades e anseios da comunidade de judeus oriundos da Alemanha na década de 1930. Após a fundação da União Associação Beneficente Israelita em 1937, o grupo que já realizava serviços religiosos desde 1933 foi impulsionado pela força mobilizadora dos ativistas da União.

Além da beneficência e auxílio aos recém-chegados, sentiram a necessidade da criação de uma instituição que pudesse se ocupar da vida espiritual, religiosa e cultural deste grupo. Uma instituição que pudesse devolver a esses imigrantes involuntários um sentido de pertinência e congregação. A este grupo pioneiro, deve-se a vinda do Rabino Dr. Lemle no fim de 1940 e a posterior fundação da ARI em 13 de janeiro de 1942.

Desde sempre, a ARI dá ao Lar União suporte religioso e ideológico. Nosso saudoso Rabino Dr. Henrique Lemle z’l cunhou na década de 1950 para o atual Lar União a carinhosa referência Lar da Amizade. Em cooperação com o rabinado da ARI, chazanim e voluntários oficiam os serviços religiosos de Kabalat Shabat e das festas, assim como lideram cerimônias e dão suporte pastoral aos moradores. As senhoras do Grupo Kibud da Comissão de Ação Social, antiga Seção Feminina da ARI, promovem a celebração dos aniversariantes do mês. Além do bolo, sempre há uma atividade que entretém e alegra os moradores.

No primeiro dia de Shavuot em 2013, a então Comissão de Culto da ARI levou para o Lar União um Sefer Torá conhecido como sefer moses, pois Siegfried Moses, o patriarca da família, carinhosamente conhecido como o Velho Moses, entregou esse Sefer à ARI em meados dos anos 1940. Conversando à época com seu filho, Harry Moses, hoje morador do Lar União, fui surpreendido pelo relato das circunstâncias da chegada desse Sefer. A família Moses emigrou da Alemanha para o Brasil em 1939. Nesse ano, já havia sob o regime nacional-socialista severas restrições para os judeus quanto à permissão de levar objetos de valor e pertences pessoais para fora da Alemanha. Siegfried Moses era membro da Diretoria da sinagoga da Wiesenstrasse em Berlim e, segundo seu filho Harry, correu sérios riscos ao contrabandear o Sefer Torá em meio aos pertences da família em sua bagagem.

Interessante registrar também que, ainda hoje no Aron Hakodesh da ARI, há três Sefarim com origens semelhantes, provavelmente salvos da mesma forma da tragédia do Holocausto.